terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Funeral de Mandela - Entrada Franca --- A escola resolve o nosso apartheid? --- "Protestos espontâneos" e Black Blocs sem cabresto

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06/12/2013 

A escola resolve o nosso apartheid?

A escola pode muito. Mas é questionável que vá salvar a pátria, dizia Antonio Candido ao PT, em 2002. Vale reler em 2014.

por: Saul Leblon 
Arquivo
Quem vai salvar a pátria?


Um traço constitutivo da agenda conservadora consiste em festejar  as derrotas da sociedade brasileira abstraindo  a dimensão estrutural do problema.



Ou seja, omitindo sua responsabilidade.



Espremido o foco, o resto fica  fácil.



Cria-se uma circularidade; ela confina o debate do futuro no campo da moral.



E a moral, como se sabe, é o  apanágio da classe dominante.



Entre nós esse reducionismo determina que o faminto é culpado pela fome. 



O Estado, carcomido pelo cupim privatista, é o responsável pela indigência pública.



O lado ‘gobineau’ das  elites –em que a genética define a história--  tem na educação um compêndio ilustrativo de sua versatilidade e dos seus limites.



Manchetes desta semana esponjaram-se no desempenho sofrível dos estudantes brasileiros no Pisa, edição 2012.



O  Programa de Avaliação Internacional de Estudantes da OCDE  sabatina alunos de 15 e 16 anos em matemática, leitura e ciências.



A mensagem subliminar do jornalismo conservador era:  esse, o país dirigido pelo populismo!



Das 65 nações  incluídas no teste, o Brasil foi a que apresentou a melhor progressão no aprendizado de matemática nos últimos nove anos.



O fato de persistir no 58º  lugar depois disso (em ciências figura no 59º; em leitura, no 55º, num total de 65)  é sugestivo do ponto de partida pantanoso  sobre o qual a elite ‘esclarecida’ fixou a escola pública brasileira.



 O mais irônico é que a narrativa conservadora  define  a educação como o único canal legítimo de mobilidade  das massas no país.   



Por trás desse simulacro de meritocracia esconde-se o círculo de ferro de uma das piores estruturas de distribuição de renda do planeta, que se avoca o direito à  eternidade.



Endinheirados  que se orgulham de patrocinar  ONGs pela redenção educativa, garantem: será assim, através da escola, não  da reforma agrária, a tributária ou a urbana, tampouco através do salário mínimo ‘inflacionário’, que a miséria material e espiritual perderá seu reinado neste lugar.



A escola pode muito.



Acertou em cheio o governo ao impor uma regulação soberana sobre a riqueza do pré-sal, que  permitirá transferir múltiplos de bilhões de reais à politica educacional nos próximos anos.



Mas é questionável que a escola possa tudo o que lhe atribui  a emancipação a frio apregoada pela agenda conservadora.



Ser uma ilha de excelência, capaz de abrigar e exorcizar o oceano de iniquidades ao seu redor, parece  mais um enredo de aventura nas estrelas do que o horizonte histórico de uma nação.



Os analistas do Pisa  parecem corroborar essa avaliação.



Eles afirmam que a metade do ganho brasileiro em matemática, por exemplo, foi uma decorrência de mudanças no entorno social dos alunos.



Uma parte do noticiário conservador  interpretou esse dado de forma desairosa, como se fora um atestado de fracasso do MEC. Outra,  omitiu-o.



Compreende-se.



Investigá-lo talvez levasse à conclusão de que as políticas demonizadas pela mídia – como o Bolsa Família, a valorização do salário mínimo, crédito barato, subsídio à habitação popular etc--  ajudaram o estudante brasileiro a ter maior poder de aprendizado.



Um exemplo:  estudantes do ensino médio beneficiados pelo Bolsa Família nas regiões Norte e Nordeste têm rendimento melhor do que a média nacional  (82,3% e 82,7%, contra  taxa brasileira de 75,2%).



Outro:  pesquisa feita na Universidade de Sussex, na Inglaterra, em 2012, revela que quanto maior é o tempo de  participação das famílias no Bolsa Família, maior é o aproveitamento escolar das crianças.  Segundo a pesquisa, a taxa de aprovação dos alunos do 5º ano aumenta 0,6 ponto percentual para cada R$ 1 de aumento no valor médio do benefício per capita pago às famílias.



A influência da entorno social na escolarização não é privilégio de sociedade pobre.



Tome-se o caso dos EUA.



O país  retrocedeu cerca de 20 pontos  na classificação global do Pisa- 2012.



Em 2009  ocupava a 17ª posição; caiu agora para a 36ª, abaixo da média geral em ciências e matemática.



O que mudou nos EUA entre 2009 e 2012? 



A sociedade norte-americana mergulhou na sua maior crise desde a Depressão de 1929.



Uma em cada cinco crianças norte-americanas vive atualmente em ambiente de pobreza. A renda  média das famílias  com filhos recuou cerca de US$ 6.300 (tomando-se 2001 como base de comparação). Com a implosão da bolha imobiliária, um milhão de estudantes de escolas públicas viram suas famílias serem despejadas .  As taxas de desemprego aberto e oculto hoje superam a faixa dos 13%. O grau de recuperação do mercado de trabalho na presente crise é o mais lento de todas as recessões anteriores.



A sobrevalorização do papel da escola na agenda conservadora brasileira padece de outros flancos de coerência.



Há uma distancia robusta entre o que se fala e o que se pratica quando se mede o hiato em moeda sonante.



O piso salarial do magistério brasileiro hoje, R$ 1560,00,  é um dos mais baixos do mundo. A perspectiva de corrigi-lo para modestos R$ 1.860 reais  em 2014  dispara as sirenes de alerta do jornalismo que promete mostrar o abismo fiscal na próxima edição.



Segundo o Pisa, o Brasil investe três vezes menos  que a média da OCDE para educar uma criança dos 6 aos 15 anos (R$ 64 mil e R$ 200 mil, respectivamente).



Em termos de PIB, fica com uma fatia equivalente a 5%.



O pedaço destinado aos rentistas da dívida pública é maior: 5,7% do PIB.



O mesmo jogral que atribui à educação poderes sobrenaturais,  martela a necessidade de submeter a economia a uma ação purgativa contundente feita de juros mais altos e cortes no poder de compra da população (em especial, a depreciação real do salário mínimo).



O conjunto visa, no fundo,  preservar  a regressividade fiscal brasileira, que privilegia ricos e penaliza pobres e remediados, contra eventuais reformas progressistas.



Nos salões elegantes, os candidatos a candidato do dinheiro grosso em 2014    acenam com a miragem desse país impossível: um Brasil com produtividade chinesa, civilidade suíça, superávit ‘cheio’ e carga fiscal equiparável a de Burkina Faso, onde o índice de alfabetização não ameaça a barreira dos 25%.



Não é apenas o entorno social do aluno pobre que está ameaçado por esse coquetel ; na verdade, ele rasga a própria  fantasia da prioridade educacional,  reduzindo-a a sua verdadeira essência histórica: uma agenda protelatória.



Ou seja, um deslocamento espacial e temporal do conflito distributivo, confinado em uma escola e em um aluno, aos quais caberá a exclusiva responsabilidade de erguer a sociedade  pelos próprios cabelos.



Ou não será assim também com a saúde pública, desafiada a ‘fazer mais com menos’, --com menos ainda  depois  que a coalizão demotucana  subtraiu R$ 40 bilhões por ano do SUS em 2007?



Um comparativo da OMS mostra o quanto há de perversidade na fotografia que imortalizou esse ato cometido na madrugada de 13 de dezembro de 2007. A imagem mostra a nata do retrocesso político comemorando a extinção da CPMF em alegria obscena. A indecência se  panfletada nas filas do SUS  ainda guarda nitroglicerina para sublevar o país.



Segundo a OMS, o gasto público mundial per capita com a saúde  chegou a US$ 571 por ano em 2010. Inclua-se nessa média os US$ 6 mil per capita da Noruega e os US$ 4 per capita do Congo; o valor brasileiro é de US$ 466/ano; em 2000, no governo FHC, somava US$ 107 per capita.



Os mesmos que gargalhavam na madrugada de 13 de dezembro de 2007 fuzilariam o ‘Mais Médicos’ seis anos depois. E não por acaso são as mesmas bocas de onde ecoa a cínica profissão de fé em uma escola  capaz de corrigir aquilo que suas madrugadas políticas cuidam de perpetuar.



 Os resultados do Pisa deveriam servir de combustível para um aggiornamento do debate brasileiro  que de forma preguiçosa adotou o cacoete de terceirizar à educação tarefas que só uma repactuação do desenvolvimento pode honrar.



Na ante-sala do debate eleitoral de 2014  seria oportuno, por vezes,  inverter os termos da equação. E arguir o que o projeto mercadista pretende fazer em benefício da pobreza e da desigualdade hoje para que elas possam mudar a escola pública  amanhã.



Vale retornar às origens e reler um trecho inspirador de uma entrevista concedida pelo professor, crítico literário e cientista social Antonio Candido de Mello e Souza, à campanha de Lula, em 2002, sobre o assunto.



Como ele, as palavras aqui emitem uma luminosidade clássica:



"Temos  uma crise de civilização (...) Talvez seja um mal que deriva de um bem. 
O esforço para tornar os níveis de ensino acessíveis a todos força diminuir o nível. Então, você fica num dilema perverso: elitizo ou democratizo e abdico de qualidade?  A saída está numa sociedade igualitária, onde todos tenham acesso à cultura e à educação de qualidade. Foi o que eu vi em Cuba. Instrução pública e gratuita em todos os níveis. E de muito boa qualidade. A chave é a transformação da sociedade, na qual as pessoas se apresentam para a educação em pé de igualdade. 
Quem acha que um bom sistema educacional salva a pátria está redondamente enganado. A participação nesse sistema será sempre restrita. Por isso você tem que, primeiro, fazer mudanças estruturais; depois, terá um boa educação. Os liberais pensam: eu tendo uma população instruída, terei uma sociedade melhor. 
Errado. Tendo a sociedade melhor, terei uma população instruída. Só assim você supera essa contradição aparente entre elitização e democratização. Continuo achando que a forma republicana do ensino público e gratuito é o grande modelo 
(...)  Numa sociedade em que as diferenças de classes ficam muito reduzidas, haverá um desaparecimento da cultura erudita e da popular. E surgirá uma nova cultura. Isso é possível. A função do Estado é fazer um grande esforço econômico e social para que no plano cultural o hiato diminua. De tal maneira que, no fim de certo tempo, o popular se torna erudito e o erudito se torna popular.  
(...) Sempre tivemos uma República de elite. Um presidente da República era eleito com 200 mil votos - e votos descobertos. Em 1930, eu assisti na minha cidade, em Cássia, Minas Gerais, à última eleição a descoberto. O eleitor chegava e o coronel, ao lado, fiscalizando. Depois de Getúlio, com a emergência das massas operárias, das massas urbanas, não foi mais possível manter esse estreitamento. O Getúlio era um caudilho esperto. Para manter as elites sob controle, abriu as porteiras e deixou o povo entrar, mas patrocinado por ele. Todavia, abriu a porteira.  E ela está aberta até hoje” (Antonio Candido; site da Campanha Lula Presidente; 2002)

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Leia também:

Leia no fechamento desta edição, entrevista com o professor Giuseppe Cocco:

"Aqueles que fazem oposição se confirmaram como fundamentais, em particular o PSOL do Rio de Janeiro. Contudo, a “esquerda de oposição” sai muito mal desses cinco meses de lutas. Quando ainda tem cidadania no movimento, isso não impede que o movimento os transponha totalmente. Por outro lado, é evidente que a “esquerda de oposição” não representa nenhuma alternativa eleitoral, e eu continuo convencido de que até o movimento mais radical precisa de algum momento eleitoral. Quanto ao PT, qual é seu projeto? Difícil dizer, pois não há nenhum, a não ser “continuar no governo”. É ainda pior se perguntamos: qual projeto a Presidenta Dilma implementou em seu mandato? Em termos de políticas públicas, não houve nenhuma inovação.

[PressAA: Houve sim! No governo Lula, o professor Giuseppe Cocco conseguia promover muitos eventos, trazendo famosos conferencistas internacionais para um bem remunerado blá-blá-blá nas universidades e em outras instituições. Agora está faturando menos, visto que as verbas para esses eventos estão sendo democratizadas. Essa é a mesma queixa de gordos globais que detinham o monopólio de promoção de eventos em São Paulo e perderam parte para outras empresas do ramo.]

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No blog da redecastorphoto...


A papai-noel-ização de Nelson Mandela” [1]

9/12/2013, [*] Slavoj ŽižekThe Guardian, UK
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Nelson Mandela
Nas últimas duas décadas da vida, Nelson Mandela foi festejado como modelo de como libertar um país do jugo colonial sem sucumbir à tentação do poder ditatorial a sem postura anticapitalista. Em resumo, Mandela não foi Robert Mugabe, e a África do Sul permaneceu democracia multipartidária com imprensa livre e vibrante economia bem integrada no mercado global e imune a horríveis experimentos socialistas. Agora, com a morte dele, sua estatura de sábio santificado parece confirmada para toda a eternidade: há filmes sobre ele (com Morgan Freeman no papel de Mandela; o mesmo Freeman, aliás, que, noutro filme, encarnou Deus em pessoa). Rock stars e líderes religiosos, esportistas e políticos, de Bill Clinton a Fidel Castro, todos dedicados a beatificar Mandela.

Mas será essa a história completa? Dois fatos são sistematicamente apagados nessa visão celebratória. Na África do Sul, a maioria pobre continua a viver praticamente como vivia nos tempos do apartheid, e a ‘conquista’ de direitos civis e políticos é contrabalançada por violência, insegurança e crime crescentes. A única mudança é que onde havia só a velha classe governante branca há agora também a nova elite negra. Em segundo lugar, as pessoas já quase nem lembram que o velho Congresso Nacional Africano não prometera só o fim do apartheid; também prometeu mais justiça social e, até, um tipo de socialismo. Esse CNA muito mais radical do passado está sendo gradualmente varrido da lembrança. Não surpreende que a fúria outra vez esteja crescendo entre os sul-africanos pretos e pobres.

Nelson Mandela e Fidel Castro
A África do Sul, quanto a isso, é só a mesma versão repetida da esquerda contemporânea. Um líder ou partido é eleito com entusiasmo universal prometendo “um novo mundo” – mas então, mais cedo ou mais tarde, tropeçam no dilema chave: quem se atreve a tocar nos mecanismos capitalistas? Ou prevalecerá a decisão de “jogar o jogo”? Se alguém perturba esse mecanismo, é rapidamente “punido” com perturbações de mercado, caos econômico e o resto todo. Por isso parece tão simples criticar Mandela por ter abandonado a perspectiva socialista depois do fim do apartheid. Mas ele chegou realmente a ter alguma escolha? Andar na direção do socialismo seria possibilidade real?

(...) Marx disse (...) em sua fórmula bem conhecida que, no universo da mercadoria, “as relações entre pessoas assumem o disfarce de relações entre coisas”.

Na economia de mercado, acontece de relações entre pessoas aparecerem sob disfarces que os dois lados reconhecem como liberdade e igualdade: a dominação já não é diretamente exercida e deixa de ser visível como tal. (...) É preciso ter em mente que a grande lição do socialismo de estado foi, sim, que a abolição direta da propriedade privada e a regulação das trocas pelo mercado, se não vierem acompanhadas de formas concretas de regulação social do processo de produção, acabam sempre, necessariamente, por ressuscitar relações diretas de servidão e dominação.

Se apenas se extingue o mercado (inclusive a exploração do mercado), sem substituí-lo por uma forma própria de organização comunista da produção e das trocas, a dominação volta como uma vingança, e com a exploração direta pelo mercado.

A regra geral é que, quando começa uma revolta contra regime opressor semidemocrático, como aconteceu no Oriente Médio em 2011, é fácil mobilizar grandes multidões com slogans que só se podem descrever como “formadores de massa”: pela democracia, contra a corrupção, por exemplo.

Mas adiante, quando nos vamos aproximando das escolhas mais difíceis, quando nossa revolta é vitoriosa e alcança o objetivo direto, logo nos damos conta de que o que realmente nos atormentava (a falta de liberdade pessoal, a humilhação, a corrupção das autoridades, a falta de perspectiva de, algum dia, chegar a ter uma vida decente) rapidamente troca de roupa e reaparece sob um novo disfarce.

A ideologia governante mobiliza aqui todo o seu arsenal para nos impedir de chegar àquela conclusão radical. Põem-se logo a dizer que a liberdade democrática implica responsabilidades; que a liberdade democrática tem seu preço; que ainda não estamos plenamente amadurecidos, se esperamos demais da democracia.

Assim, rapidamente, passam a nos culpar, nós mesmos, pelo nosso fracasso: numa sociedade livre – é o que nos dizem – todos somos capitalistas que investimos na nossa própria vida; e temos de alocar mais dinheiro para a educação do que para nossas festas e noitadas e lazer. Que se não fizermos assim, nossa democracia não terá sucesso.

Num plano diretamente mais político, a política externa dos EUA elaborou detalhada estratégia para controle de danos: basta converter o levante popular em restrições capitalistas-parlamentares palatáveis. Isso, precisamente, foi feito com sucesso na África do Sul, depois do fim do regime de apartheid; foi feito nas Filipinas depois da queda de Marcos; foi feito na Indonésia depois da queda de Suharto e foi feito também em outros lugares

No Brasil, o que a CIA, amancebada com as empresas-imprensa locais, fez/fizeram foi converter os pré-levantes populares de 1954... Em restrições-parlamentares IMPALATÁVEIS [:-)], processo que se conhece como “a redemocratização de Sarney” e que a tucanaria da privataria saudou, eufórica, e na qual mamou durante quase 50 anos. Até que, em 2001, começou a perder eleições presidenciais (NTs).

Nessa precisa conjuntura, as políticas radicais de emancipação enfrentam o seu maior desafio: como fazer avançar as coisas depois de acabado o primeiro estágio de entusiasmo, como dar o passo seguinte sem sucumbir à catástrofe da tentação “totalitária”, em resumo: como avançar além de Mandela, sem se converter num Mugabe.

Se quisermos permanecer fiéis ao legado de Mandela, temos de deixar de lado as lágrimas de crocodilo das celebrações e nos focar em todas as promessas não cumpridas infladas sob sua liderança e por causa dela. Assim se verá facilmente que, apesar de sua indiscutível grandeza política e moral, Mandela, no fim da vida, era também um velho triste, bem consciente de que seu triunfo político e sua consagração como herói universal não passavam de máscara para esconder derrota muito amarga. A glória universal de Mandela é também prova de que ele não perturbou a ordem global do poder.



Nota dos tradutores

[1] Ver também sobre vários aspectos da crítica à papai-noel-ização de Mandela:

(a) We Are Witnessing the “Santa Claus-ification” of Nelson Mandela [Estamos assistindo à papai-noel-ização de Nelson Mandela], 7/12/2013, Cornel West, Breibart TV.

(b) “Converteram Mandela numa espécie de princesa Diana (em 7/12/2013, Jonathan Cook, Information Clearing House).

(c) “O sequestro do legado de Mandela [The hijacking of Mandela's legacy], 8/12/2013, Pepe Escobar, Russia Today

(d) “Manifesto sobre o Camarada Mandela, Partido Comunista da África do Sul, 6/12/2013, Workers Worldredecastorphoto (traduzido).

(e) “Libertem Mandela (das grades da mentira), 20/7/2005, Tony Karon, em Moon of Alabama, (traduzido em redecastorphoto).
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[*] Slavoj Žižek (esloveno) Liubliana, 21 de Março de 1949) é um filósofo e teórico crítico esloveno, professor da European Graduate School e pesquisador sênior no Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana. É também professor visitante em várias universidades estadunidenses, entre as quais estão a Universidade de Columbia, Princeton, a New School for Social Research, de Nova Iorque, e a Universidade de Michigan.



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Anarchist Archives [*] Alexander Berkman [1870-1936] (c.1933-1935)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Revolução Francesa - Queda da Bastilha, 14/7/1789
Você algum dia perguntou-se como é possível que os governos e o capitalismo continuem a existir, apesar de todo o mal e as dificuldades que causam no mundo?

Se se perguntou, deve ter-se respondido que é porque as pessoas apoiam essas instituições, o povo as apóia, e as apóiam porque acreditam nelas.

Esse é o xis do problema: as sociedades contemporâneas repousam sobre a crença, em todas as pessoas, de que os governos e o capitalismo são bons e úteis. E essa crença é fundada na ideia da autoridade e da propriedade privada. São ideias que conservam o que há. O governo e o capitalismo são formas pelas quais as ideias populares se expressam. As ideias são os alicerces; as instituições são a casa construída sobre eles.

Uma nova ordem social tem de ter outros alicerces, novas ideias na base. Por mais que se mude a forma de uma instituição, o caráter e o significado dela permanecerão os mesmos que haja nos alicerces sobre os quais a instituição foi construída. Se você observar de perto a vida, logo perceberá que sim, que isso é verdade. Há todos os tipos e formas de governo no mundo, mas a real natureza do governo é sempre a mesma, seja onde for; e seus efeitos também são os mesmos: governo sempre significa autoridade e obediência.

(Para ler artigo completo, clique no título)

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Ricardo Kotscho,  meu querido companheiro de jornadas de 1989 – ele, assessor de imprensa de Lula; eu, de Brizola – publicou ontem em seu blog uma artigo estranhando as movimentações de grupos que já preparam protestos ”espontâneos”  contra a realização da Copa.
E indaga, curioso:
Quais movimentos sociais estão se organizando?
Vão protestar contra o quê, exatamente?
Os comitês de mobilização estão sendo criados por quem?
Quem são seus líderes que estão percorrendo o Congresso em busca de apoio?
Bem, como ele pede ajuda para descobrir, resolvi dar uma mãozinha  e fui procurar quem registra na  internet o siteportalpopulardacopa.org.br, principal central de articulação de críticas e protestos contra a Copa do Mundo, o que é legítimo fazer, ninguém discute.
O site pertence a uma ONG chamada Justiça Global, igualmente legítima, embora seja sustentada – a crer nos seu último balanço divulgado na internet, o de 2008 - praticamente só por doações interacionais (R$ 831,9 mil, contra apenas R$ 4,5 mil de brasileiros).
registro

E quem aparece como um dos contatos registrados?
Cavallaro tem uma longa história aqui, desde que divergiu com a tradicional Human Rights Watch e criou uma ONG própria, o Centro de Justiça Global, que dirigiu durante anos por aqui.
Como ficaria o Brasil se o nosso representante, Paulo Vanucchi, aparecesse como responsável pelo site do Occupy Wall Street?
Saia justa, não?
Leia o artigo de Ricardo Kotscho.

Vêm por aí novos protestos. Para que e contra quem?


Dia sim, noutro também, aqui e acolá, em diferentes espaços da nossa imprensa, assim como quem não quer nada, estão aparecendo notinhas nas últimas semanas anunciando novas manifestações de protesto em todo o país.
Na nota de abertura da sua sempre bem informada coluna, o velho amigo Ilimar Franco, de “O Globo”, relatou neste sábado:
“Os movimentos sociais que foram para as ruas em junho, organizam-se para voltar a protestar na Copa. Comitês de mobilização estão sendo criados nas 12 capitais-sede dos jogos. A ideia é colocar gente na rua nos dias das partidas, na frente dos estádios e nas “fan fest” produzidas pela Fifa. Neste momento, seus líderes percorrem o Congresso em busca de apoio político e logístico”.
Ilimar não dá maiores detalhes nem nomes, mas ao ler o texto fiquei curioso em entender certas coisas e me fiz algumas perguntas:
Quais movimentos sociais estão se organizando?
Vão protestar contra o quê, exatamente?
Os comitês de mobilização estão sendo criados por quem?
Quem são seus líderes que estão percorrendo o Congresso em busca de apoio?
Até agora, os chamados “protestos de junho” foram apresentados pela mídia como iniciativas autônomas, espontâneas, sem líderes, que brotam assim do nada. A nota de Ilimar Franco aponta exatamente para o quadro oposto: um movimento organizado desde já para se apresentar durante a Copa.
Em junho, por conta da violência dos protestos, como ficamos sabendo esta semana, corremos o risco de ficar sem a Copa do Mundo no Brasil, como escreve Juca Kfouri em sua coluna da “Folha” deste domingo:
“Eis que, na última terça-feira, o secretário geral da Fifa, Jerome Valcke, em entrevista por feliz coincidência ao repórter André Kfouri, da ESPN Brasil, falou com todas as letras que a entidade esteve na iminência de paralisar o torneio, o que, acrescentou, caso se materializasse, punha em risco a Copa”.
Juntando os pedaços, encontro outra nota na “Veja” desta semana que trata do mesmo assunto:
“O mercado publicitário tem constatado que os patrocinadores da Copa estão tímidos em suas ações e planejamento de marketing para o Mundial. Pairam em suas cabeças as manifestações diante dos estádios na Copa das Confederações”.
É bom nos lembrarmos que, em 2014, além da Copa do Mundo, teremos eleições presidenciais e a campanha estará entrando em sua fase decisiva justamente ao final da festa do futebol. Pode não ser mera coincidência. O que antes era “espontâneo”, agora está sendo organizado com meses de antecedência e já causando prejuízos para o mercado publicitário.
Até que ponto um evento tem a ver com o outro e aonde querem chegar os líderes dos novos protestos? Está tudo muito bom, muito bonito, Fernanda Lima está cada vez mais Fernanda Linda, mas acho tudo isso bem estranho.
Ajudem-me a entender o que está acontecendo. Quem tiver respostas para as minhas muitas perguntas, por favor escreva aqui para o Balaio.

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PressAA

Dizem que a função dos Black Blocs é a de proteger o movimento social, mas sem terem sido convocados para tal função. Sendo assim, estariam agindo como traficantes ou milicianos que se autoelegem “protetores” das populações faveladas contra arbitrariedade policial. É isso?

Dizer que a ação dos Black Blocs no “levante de junho” era a “autodefesa” dos manifestantes só teria sentido se fossem elementos preparados e designados por grupos específicos de manifestantes, com o propósito de lhes dar cobertura: sindicatos, partidos políticos, entidades comunitárias etc. Afinal, “autodefesa” é defesa de si próprio. Para justificar o emprego do termo, já houve quem recorresse ao caso do movimento grevista dos professores no Rio de Janeiro:

A SEPE, sindicato dos professores em greve no Rio, foi a única organização capaz de compreender até o momento o que são e como agem os Black Blocs. A SEPE abriu diálogo, homenageou e foi defendida pelos Black Blocs.” [“Para entender os Black Blocs, a autodefesa popular”]


O autor passa o tempo todo repetindo que “Black Bloc” não é grupo, mas, sim, uma “tática”. Ora, “tática” é teoria, método, que poderia ser adotado por qualquer dos grupos manifestantes. Portanto, se o autor quisesse falar de teoria, arte de combate, ataque e defesa, até aí tudo bem, então, que tratasse da questão e até lançasse um manual de guerrilha; mas tentar justificar a participação dos Black Blocs pela “eficiência” do método é bobagem, é forçar a barra, é agitar os neurônios White Blocs.

Outra argumentação falaciosa dos defensores dos Black Blocs é a de que estes não teriam lideranças, como se toda liderança fosse nociva. Então, para justificar a “excelência” do movimento “acéfalo” (feito só de braços pra jogar coquetel molotov e pernas pra correr), citam pelegos e demagogos. Ora, isso é como desqualificar uma boa educação familiar sob a liderança e orientação dos pais, apontando apenas as condutas de pais ausentes, até omissos, e as consequentes atitudes dos filhos.

O único movimento comunitário que conheci em minhas andanças Brasil adentro, o qual rejeitava a “liderança personalizada”, foi o Movimento de Reivindicação da Bomba do Hemetério (MRBH), no Recife, no final dos anos 1980, uma instituição que congregava cerca de 30 entidades comunitárias da Zona Norte da capital pernambucana, era (é?) uma espécie de conselho de entidades comunitárias. 

A filosofia do movimento, em relação às suas lideranças, era a de “líder ocasional”, líder por tema, por objeto de reivindicação; na verdade, responsabilizava-se determinado elemento do grupo pelo encaminhamento de determinadas causas, baseando-se no grau de conhecimento e habilidade que ele revelasse, quer dizer, considerava-se líder aquele que, momentaneamente, parecia ser o mais apto a organizar determinada causa. Era mais ou menos assim que as coisas funcionavam. E a imprensa e políticos até que tentavam cooptar as lideranças, mas o grupo policiava os sujeitos. 

Naquela época, o movimento somente sobreviveu porque tinha o apoio do governo Arraes. Fui líder “supremo” daquele movimento durante uns 3 anos, porque exercia o único cargo instituído, o de secretário, responsável pelo registro histórico dos atos e palpiteiro-mor; manobrava as massas e desmobilizava as tentativas de desvirtuamento das causas. 

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre a atuação do MRBH no final dos anos 1980, pode consultar os arquivos e bibliotecas da Universidade de Amsterdam, Holanda, as obras do saudoso professor Williem Assies, ou ir ao Recife e visitar a Bomba do Hemetério, hoje um dos bairros incluídos no roteiro turístico da cidade, com seus bares, casas de show e restaurantes típicos.

Fernando Soares Campos

Editor-Assaz-Atroz-Chefe




7/12/2013[*] Giuseppe Cocco (entrevista) – Instituto Humanitas Unisinos
Entrevista enviada e comentada pelo pessoal da Vila Vudu


IHU On-Line - O que as manifestações do chamado Outubro Brasileiro nos ensinam no que se refere às possibilidades efetivas da democracia direta?

Giuseppe Cocco - As manifestações de outubro são a continuidade e o desdobramento daquelas de junho. No conjunto elas ensinam muitas coisas, inclusive sobre as possibilidades efetivas de democracia direta. Antes de tudo, elas nos ensinam que a “democracia direta” só existe nos termos da radicalização democrática. O movimento não apenas nos diz que a separação da fonte (o povo) vis-à-vis do resultado (os representantes) é imoral, mas explícita, e torna visível que essa dimensão imoral do poder está baseada na violência de suas polícias. Ou seja, o movimento teve a capacidade de mostrar para o Brasil e para o mundo as dimensões perversas do monopólio estatal do uso da força no Brasil; um regime de terror de Estado que, por meio do regime discursivo sustentando pela mídia da elite neoescravagista, é tratado como se fosse “externo” e independente dos governos, até o ponto em que, no Rio de Janeiro, a solução seria seu aprofundamento por meio da chamada “pacificação”.

Seria irônico se não fosse o cúmulo do cinismo escravocrata. É que a forma espúria de agir do Estado, ou conluio generalizado entre forças de polícias e crime organizado, no meio da histeria repressiva contra o tráfico de drogas, funciona como principal mecanismo de legitimação da guerra contra os pobres e contra suas mobilizações democráticas. Como sempre fez, desde junho, o poder multiplica os boatos sobre participação do narcotráfico nas mobilizações democráticas. Na senzala — ou seja, nas favelas, subúrbios e periferias — o terror anda a pleno vapor, quer a polícia seja do PSDB, do PT, do PSB ou do PMDB. É um terror estatal com vieses classistas e, sobretudo, racistas. Os ventos de junho continuam soprando (não apenas em outubro, mas também em novembro), e o outono já virou uma primavera que anuncia o carnaval.

(...)

A marca da Dilma foi a volta do economicismo, e isso em torno de duas falácias: a primeira foi a aposta na economia material das commodities, dos megaeventos, das megaobras e dos global players (a grande indústria multinacional); a segunda — complementar a essa — foi a ideia de que a mudança de modelo econômico viria de cima para baixo, pela decisão-decreto de “baixar a taxa de juros”.

Quando Dilma fala que gosta de engenheiros e não de advogados, ela está sendo muito sincera, nos faz entender que ela é mesmo autoritária. Não se trata apenas de “jeito”, do gosto pelos engenheiros que fazem os cálculos das barragens ou dos estádios, diante dos “chatos” dos advogados que ajudam os índios e os pobres a desconstruir essas equações para mostrar os impactos ambientais e sociais. Trata-se mesmo de uma maneira de pensar a política como uma engenharia social, uma teleologia do progresso a ser implementada, inclusive pela força (a polícia, sem esquecer que se trata da polícia brasileira, que mata oficialmente cinco pessoas por dia), como fizeram Lenin e Stalin com a “industrialização forçada”. Só que agora, o ridículo é que o totalitarismo é para permitir a qualquer custo que a Copa da FIFA aconteça nos moldes dos interesses da FIFA. O nacionalismo é sempre assim: em nome do interesse nacional, abrem-se avenidas para o neocolonialismo interno e, pois, externo.

Logo que foi eleita, Dilma mostrou a que veio: a destruição do Ministério da Cultura foi emblemática, mas também a afirmação de seu estilo autoritário, com a demissão de Pedro Abramovay, justamente por ter anunciado um elemento de projeto (a reforma — urgente e necessária — da política de repressão das drogas). Um episódio que mostra o caráter arrogante e autoritário da Presidenta e a submissão dócil de seus ministros — a começar pelo que deveria ter defendido o Pedro Abramovay, o Ministro da Justiça —, que praticamente não tomaram nenhuma iniciativa nestes três anos.

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IHU On-Line - Que relação pode ser feita entre aquelas primeiras manifestações e as mais recentes, que passaram a ser identificadas pelos atos de violência? Trata-se da continuação de um mesmo fenômeno ou são situações isoladas uma da outra?

Giuseppe Cocco - Não há diferença entre as primeiras manifestações e aquelas que persistiram ao longo desses meses: por exemplo, as primeiras manifestações no Rio de Janeiro, no início de junho, tinham muita pouca gente e já eram caracterizadas pela determinação de uma nova geração de jovens em resistir aos ataques da polícia e dar às manifestações algum nível de efetividade. Contrariamente ao que a mídia e os intelectuais ligados ao governo afirmam hoje, foi essa característica marcante das manifestações que as massificou. Ao passo que os governos achavam que o “rodo” policial teria afugentado os manifestantes, em particular aqueles politizados de classe média que — segundo seus cálculos obsoletos — deviam constituir o núcleo duro das mobilizações.

Não apenas isso não afugentou, mas massificou e, dentro da massificação, foi se construindo a capacidade de resistir e até de praticar ações diretas de tipo simbólico. Desde o início o poder da mídia e a mídia do poder tentaram impor a separação entre os manifestantes “ordeiros” e os “vândalos” e não funcionou. Não funcionou porque, apesar das mistificações seguidas da mídia, as práticas da autodefesa e das ações diretas respeitaram limites políticos precisos que não permitiram que a elas se colasse o discurso da violência e do medo.

 A maioria da população, sobretudo da população jovem e pobre, passou a enxergar nessas práticas uma brecha de luta efetiva. Trata-se, pois, de uma continuidade e de um amadurecimento, como vimos na volta da multidão para a Avenida Rio Branco nos dias 7 e 15 de outubro. Contudo, podemos e precisamos sistematizar a questão da violência em três momentos de reflexão: a violência já existe e a novidade foi a brecha democrática; a questão da tática Black Bloc; e a repressão.

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Eu nunca fui anarquista e não acredito no “anarquismo” porque penso que a luta é pela invenção de novas instituições. Mas não adianta querer que a “realidade” se encaixe nas nossas ideias. É preciso que as ideias se adéquem à realidade. A referência (global) à tática Black Bloc parece ter respondido ou correspondido a algumas inflexões totalmente brasileiras e cariocas.

A primeira é a necessidade desses jovens oriundos das periferias e dos subúrbios de se mascarar para poder lutar 


(há como que uma inversão: não usam máscaras por serem Black Blocs, mas se chamam de Black Bloc para poderem usar as máscaras e chegar mascarados nas manifestações do mesmo modo que as bandeiras pretas da anarquia lhe parecem as únicas — mas não exclusivas — que afirmam a horizontalidade radical de sua luta).

A explicitação da tática Black Bloc é também — e paradoxalmente diante do processo de criminalização do qual são objeto — a definição de uma ética da resistência e da ação direta, ou seja, de “limites” dentro dos quais manter essas duas práticas que o movimento de junho e seus desdobramentos, ao longo dos meses de julho, agosto, setembro e outubro, colocaram em pauta. A tática Black Bloc foi um sucesso midiático inesperado. São eles que chamam a atenção de todos os tipos de mídia. De onde vem esse “sucesso”? Da percepção de que nessa tática há uma brecha democrática capaz de colocar na rua a questão da paz e da justiça social: é essa tática que conseguiu dar o nome de Amarildo a todos os pobres sem nome massacrados arbitrariamente pelo Estado: cinco por dia, segundo as estatísticas publicadas pelo O Globo.

[PressAA; Incrível! Existem intelectuais acadêmicos que, quando lhes convêm, acreditam em “estatísticas publicadas pelo O Globo”.]


(Para ler entrevista completa, clique no título)

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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA



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