sábado, 12 de outubro de 2013

Tudo nos Estados Unidos é wônderful and pérfect! --- Fundamentalismo ambiental: O Equador tem lá suas Marinas --- Carta Maior de cara nova

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Tudo nos Estados Unidos é wônderful and pérfect!

Fernando Soares Campos

Tudo nos Estados Unidos da América é maravilhoso e perfeito, inclusive o idioma oficial. Aliás, é um vernáculo wônderful and pérfect, pois essa língua pérfectly wônderful revela que a nossa é esdrúxula no mau sentido: esquisita. A deles é esdrúxula... quer dizer... fréak, no bom sentido, pois lá qualquer vocábulo com mais de duas sílabas é proparoxítono. Pra mim, isso é o récord da pérfection! Lá, ninguém se chama, por exemplo, Sebastião, mas, sim, Sabástian. Severino é Séverine, tomado emprestado do francês. Raimundo é Rêymond. Roberto é Róbert, e o apelido não é Bet, como os daqui, que são tratados por Beto. É Bob! Prétty, não é mesmo? E Maria? Nenhuma! Nenhuma da gema! Só se for paraguaia. De lá mesmo, é tudo Mary original! E o que aqui chamamos de maria-vai-com-as-outras, lá é Mary’s Club.

Alguém aí já ouviu falar em turismo para levantar a autoestima? Tôurism to sélf-ésteem. Sim, evidente, pois essa característica do turismo pode ser facilmente identificada nas pessoas que passam a vida toda aqui em Pindorama poupando uma pequena parcela do seu suado salário ou rendimento e viajam para Miami com o propósito de conhecer praias wônderfully urbanizadas e gastar suas economias em shóppings cênters que ofereçam muambas de boa qualidade. Dois em um; mas, no Fírst Wôrld, pois a Barra da Tijuca já mixou há muitos anos. Porém esse é o objetivo básico do turista medianamente medíocre. As pessoas do topo da pyrâmid buscam prazeres mais intrínsecos às complexas exigências da alma.

Conheço uma socialíte que todos os anos faz um tôur pelos stâtes somente para ouvir seu nome ser pronunciado em inglês. Diz ela que isso levanta sua autoestima, sua sélf-ésteem. Não vou citar seu nome, pois se trata de uma pessoa discreta, apesar de ser uma colunável frequentemente colunisada por respeitáveis colunistas. Só posso dizer que ela adora ser chamada de Benédity Píggy. Tá bem, tá bem, me rendo! Não sei guardar segredo. É a Benedita Leitão.


Agora veja essa. Apesar de a grafia da palavra "inteligente", em inglês, parecer insinuar que um americano é menos inteligente que um brasileiro, visto que não se emprega o “e” no final, isso é compensado pelo “l” dobrado: intelligent. Em contrapartida, um idiota, um cretino ou um ignorante, lá, é simplesmente idiot, cretin ou ignorant. Sacou? Isso mesmo, bem menos extenso, portanto menos “estúpido” que um brasileiro. Por sinal, muito menos! Apenas stupid, que dizer, só no meio, o que significa apenas meio estúpido; enquanto aqui o cara é estúpido do começo ao fim. E esdrúxulo! Lato sensu.

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No blog da redecastorphoto...



Charge de Harm
Cartas ao Coronel Boas-Maneiras (Aposentado)

10/10/2013[*] Tom EngelhardtTomDispatch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

NOTA DO EDITOR: Em tempos de governo dos EUA sequestrado no “trancamento”, o jornal clássico dos militares, Stars and Stripes, também enfrenta alguns dos problemas que hoje atormentam os mortais civis, e teve de reduzir a edição impressa. Dentre as sessões que se foram, está a sessão “Caro Abby”, de conselhos ao leitor. Nosso TomDispatch apresenta-se como substituto.

Começamos por cartas escritas por um velho e respeitado amigo, o Coronel Boas Maneiras (Aposentado), cuja experiência em assuntos militares e de vigilância está bem comprovada em seu Curriculum Vitae (infelizmente, é documento altamente sigiloso)O trabalho do Coronel BM é responder cartas de norte-americanos desnorteados ou intrigados com a etiqueta, os modos e a linguagem do arcano mundo da segurança nacional de Washington. Aqui [vai uma amostra de coluna de cartas ao leitor que, sindicalizada e bem administrada, pode vir a ser sucesso global].



Prezado Coronel Boas Maneiras,

Quem lhe escreve é um velho e bombardeado editor de jornal. Li recentemente na revista New Yorker um artigo de Ken Auletta,que inclui o seguinte perturbador parágrafo sobre o New York Times:

No início de agosto, o Times trabalhava numa matéria sobre uma ameaça terrorista interceptada, quando James R. Clapper, diretor da inteligência do governo, ordenou ao jornal que omitisse alguns detalhes. Clapper avisou que, se publicasse a versão completa, o Times “ficaria com as mãos sujas de sangue”.

Times não publicou os tais detalhes.

O problema é que, com tantos e tais documentos secretos vazados de Washington e já chovendo todos os dias sobre o mundo,e dado que é perfeitamente possível que alguns dos documentos secretos acabem chegando cá no meu jornal, muito me preocupa o risco de eu também ficar com as mãos sujas de sangue. No plano pessoal, sou covardíssimo no que tenha a ver com sangue. Na escola, tive de sair da sala, quando o professor de biologia mostrou um filme sobre Harvey e a descoberta do sistema circulatório. Quando assisto ao seriado Grey’s Anatomy, tenho de fechar os olhos, quando começa aquela sangueira, nas cirurgias. É eu ver um reles dedo cortado, e desmaio. O senhor tem alguma sugestão?

Editor estressado e sanguineamente muito ansioso, em Chicago
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Prezado Editor estressado (etc.),

Entendo seu problema. Felizmente, sinto-me à vontade para assegurar-lhe que é só coisa que meteram na sua cabeça. Para compreender por quê, você trate de entender claramente que um negócio perfeitamente claro em Washington pode ser menos claro em Chicago. Se um funcionário do governo sugere que alguém externo ao governo pode sujar as mãos de “sangue” – o que aconteceu várias vezes, por exemplo, no imbroglio de Bradley Manning  – trata-se de sangue possível, sangue prognóstico; pode-se dizer, sangue futuro. Os mais recentes estudos científicos mostram que as reações negativas ao sangue são desencadeadas, em parte, pela cor vermelho alarmante. O outro sangue, possível, prognóstico, futuro, que é sangue metafórico, não é vermelho. Na hipótese de que aconteça de você sujar suas mãos naquela substância, você, propriamente dito, não “verá” coisa alguma.

Em Washington, acontece mais ou menos o mesmo fenômeno também com sangue passado. Considere o diretor Clapper, da Inteligência Nacional. De 2001 a 2006, foi diretor da Agência de Inteligência Nacional Geoespacial, depois foi subsecretário de Defesa para Inteligência, antes de Obama nomeá-lo para dirigir toda a inteligência nacional. Em outras palavras, Clapper serviu em Washington durante as guerras do Iraque e do Afeganistão, e também durante a Guerra Global ao Terror. Como muitos funcionários em Washington, militares e civis, que apoiaram a missão global dos EUA ao longo de todos esses anos, poder-se-ia dizer que ele teria alguma responsabilidade sobre algumas mortes e, assim, teria mãos “sujas de sangue”. Só no Iraque morreram quase 4.500  norte-americanos;no Afeganistão, só até agora, já foram quase 2.300 mortos,além das dezenas de milhares de iraquianos e afegãos que morreram naqueles anos.

Eis onde quero chegar: Washington não se deixa perturbar por esses sangues. A razão é simples: é sangue invisível, ninguém vê. Eu próprio, que conheço Clapper pessoalmente, posso assegurar que, quando ele lhe dá bom-dia e aperta-lhe a mão, não há nem o mais ínfimo traço de sangue nas mãos dele. (E Clapper é homem desses que, quando aperta uma mão, aperta mesmo!).

Espero que essas informações sirvam para levantar-lhe o ânimo. Como tantos outros luminares do universo de nossa segurança nacional, Clapper é exemplar. Nada o afasta de seus objetivos, e seu “sangue”, esse sim, é tido como muito mais real que o sangue metafórico e altamente especulativo que pode talvez chegar às mãos de jornalistas por um ou outro assassinato relacionado à divulgação de documentos secretos. Observe que, apesar do número aparentemente muito alto desses documentos em anos recentes, não há registro de sangue realmente respingado constatado.

Sinceramente seu,
Coronel Boas-Maneiras (Aposentado)
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(...)

Prezado Coronel Boas Maneiras (Aposentado),

Tenho de solicitar sua discrição, por razões que logo o senhor compreenderá. Há 12 casos documentados nos quais um empregado da Agência Nacional de Segurança dos EUA usou os programas de vigilância da referida agência para espionar os e-mails de um ou uma parceira(o), amante ou alguém que lhe interessava do ponto de vista romântico, ou para ouvir seus telefonemas. E isso é em geral considerado “a ponta do iceberg”. Sou empregado civil da Agência Nacional de Segurança dos EUA. Considere-me o 13º caso, o da má sorte. Sei que esses atos são chamados sardonicamente de LoveINT [Inteligência Amorosa], mas o meu caso nada teve de amoroso. Como disse à minha ex-parceira, eu só queria saber se ela e um amigo nosso estariam planejando uma festa surpresa para o meu aniversário. (Sou desses que não gostam de ser apanhados desprevenidos).

A Agência nada fez contra mim, mas minha parceira jamais me perdoou. (Ela agora vive com o nosso amigo). Ela insiste até hoje que eu devia pedir desculpas. Considero isso irracional. Ninguém foi prejudicado. Disse a ela que a Agência Nacional de Segurança espionou até os e-mails da presidenta Dilma Rousseff do Brasil, e que nem por isso o presidente dos EUA pediu desculpas. A única resposta dele foi inventar uma “ampla revisão” das práticas da Agência, que vai durar muitos meses.(O senhor pode acreditar em mim: nada há a investigar. Já investigamos!). Tanto quanto posso ver, são casos equivalentes: como minha ex-parceira, a presidenta Dilma reagiu de modo exageradamente emocional: cancelou visita planejada a Washington e, depois, denunciou os EUA à ONU. Eis meu problema:  se o presidente não teve de pedir desculpas, por que eu teria (de pedir desculpas?). Quem está do lado certo, nesse caso? Por favor, resolva essa minha dúvida.

13, o Azarado
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Estimado Azarado 13,

Temo que as regras de etiqueta sejam diversas, nos dois casos aos quais você faz referência. Lamento muitíssimo, mas tenho de dizer-lhe você está do lado errado e, sim, deve pedir desculpas. Na vida pessoal, é importante dizer “me desculpe” a todos aos quais tratemos mal, e espionar os e-mails de sua parceira é, definitivamente e por definição, tratá-la muito mal.

Assim também, em escala global, se, digamos, o governo argentino tivesse espionado os e-mails da presidenta Rousseff, sim, as boas maneiras o obrigariam a pedir desculpas. Nem preciso explicar o óbvio: os EUA não são nação normal. São a única superpotência do planeta. Regem-se por outro livro de etiqueta, que os próprios EUA escrevem – e assim são as coisas, como têm mesmo de ser. Assim sendo, se nós, norte-americanos, estávamos agindo conforme o nosso livro, no caso da espionagem da Agência versus Rousseff, por que teríamos de pedir desculpas? Desculpas por quê?

Todos sabemos que presidentes dos EUA não se desculpam pelos feitos de seus espiões nem de seus soldados, ou hackers, ou comandantes ou drones. Além do mais, é óbvio que esse pedido de desculpas seria absolutamente inviável e poria esse país no caminho direto ao inferno. Afinal, se um presidente parasse de agir como reza o livro das superpotências (mas só há uma) e se pusesse a pedir desculpas, imagine só a caixa de Pandora que estaria abrindo (sem nem rastro de esperança no fundo da caixa).

Se fôssemos nação normal, a lista de feitos pelos quais teríamos de pedir desculpas, só na última década, incluiria 

Assim sendo, Azarado 13, engula aí sua má sorte, peça desculpas à moça, mas não peça que o presidente também o faça.

Confidencialmente,
Coronel Boas-Maneiras (Aposentado) 

(Para ler texto completo, clique no título)

(Você pode até gostar também de "Cartas dos meus leitores", do nosso mutt-editor)

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Igor Fuser
Arquivo




Uma feroz disputa política agita o Equador e suscita debates pelo mundo afora. A polêmica tem como foco o Parque Natural de Yasuní, que o presidente equatoriano Rafael Correa decidiu recentemente abrir para a exploração petroleira. A questão foi submetida à votação da Assembleia Nacional, em Quito, nesta quinta-feira, 3 de outubro, quando a posição de Correa foi referendada por 108 votos a 25, em meio a protestos de entidades ambientalistas dentro e fora do Equador. Junto com o futuro desse parque amazônico – uma das principais reservas de biodiversidade do planeta – está em jogo uma questão muito cara a todos os partidários da ideia de um “outro mundo possível”: quando os ideais da preservação ambiental entram em choque com as necessidades humanas da sobrevivência, dignidade e bem-estar, qual dos dois lados deve prevalecer?
Em teoria, esse conflito não deveria existir. Afinal, os trabalhadores explorados pelo capitalismo são os maiores prejudicados pela devastação da natureza e pela atual catástrofe climática, causada justamente pela febre da acumulação incessante de capital. Ambientalistas e socialistas marcharam juntos nos encarniçados embates contra as principais instituições do capitalismo global, na virada do século, quando chegaram a impedir a realização de uma reunião da Organização Mundial do Comércio, em Seattle (EUA). Na América do Sul, essa aliança esteve presente na formação de governos populares, na Bolívia (2006) e no Equador (2007), que adotaram entre seus princípios o conceito indígena do “bem viver”. Por essa expressão, um tanto imprecisa, entendia-se a valorização da existência humana em um plano que vai além do consumismo contemporâneo e inclui a busca do equilíbrio com a natureza.
Na sua atuação prática, esses dois governos de esquerda logo se depararam com escolhas difíceis que trouxeram à tona interpretações divergentes sobre o “bem viver”. Na Bolívia, o presidente Evo Morales enfrentou em 2011 a duríssima resistência de organizações indígenas e ambientalistas que, com forte apoio no exterior, tentaram bloquear o projeto de construção de uma rodovia atravessando a reserva indígena conhecida pela sigla Tipnis (Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Secure). Marchas e protestos sacudiram o país durante meses. Morales defendia a obra como indispensável para superar o isolamento econômico de uma enorme região (a província do Bení) e incrementar a presença dos serviços públicos na Amazônia boliviana. O impasse só se resolveu quando, consultados em referendo, os habitantes nativos do Tipnis se manifestaram, na sua maioria, a favor da estrada.


Extrativismo a serviço das políticas sociais



O Equador enfrenta um conflito semelhante. Desde sua instalação, o governo de Correa tem apresentado um desempenho extraordinário no campo social, com significativa redução da pobreza e melhoria dos indicadores de saúde, emprego e educação. Mas esses avanços se devem, em grande medida, à manutenção de um modelo econômico extrativista, com ênfase na exploração de minérios e do petróleo, exportados na condição de commodities para os países industrializados. São essas receitas que financiam as políticas sociais e impulsionam o crescimento da economia.



Nesse contexto deve ser entendido o impasse em torno da exploração petroleira na Amazônia. Com 982 mil hectares, o Parque Yasuní abriga uma imensa variedade de espécies vegetais e animais, além de ser habitado por várias etnias indígenas, entre elas dois povos, os tagaeri e os taromenane, que vivem em isolamento, por vontade própria. No subsolo do parque, repousam 900 milhões de barris de petróleo, o equivalente a 25% das reservas equatorianas.


O Equador é um país muito pobre, carente de dinheiro para a construção de escolas, hospitais, estradas, moradias populares. Não pode se dar o luxo de renunciar à exploração dos seus recursos naturais. Dificilmente Correa escaparia, portanto, de adotar medidas para o aproveitamento do petróleo de Yasuní. De outra forma, deixaria de cumprir seu compromisso com o desenvolvimento econômico e social do país – uma falta que lhe seria impiedosamente cobrada pela oposição direitista. O Equador é uma democracia, não se pode esquecer, e jamais, em país algum, o ecologismo radical conseguiu os votos da maioria do eleitorado.
Ainda assim, e com sua equipe de governo dividida entre defensores e adversários da extração petroleira em Yasuní, o presidente lançou, em 2008, uma audaciosa proposta ao mundo: manter o petróleo do parque debaixo da terra, intocado, em troca de uma compensação financeira, pela comunidade internacional, de US$ 3,6 bilhões, equivalente à metade da receita que o país perderia ao abrir mão desse recurso. 



Campanha de desmoralização, sem argumentos concretos



A Iniciativa Yasuní, como foi denominada, fracassou totalmente, por falta de doadores. Em cinco anos de peregrinação pelas capitais do “Primeiro Mundo”, os emissários equatorianos arrecadaram menos de 1% da quantia pretendida. Diante desse resultado, Correa anunciou, em agosto deste ano, o que chamou de “Plano B”, entregando os blocos petrolíferos de Yasuní à estatal Petroecuador, que buscará parceria com empresas internacionais (de preferência, chinesas) para dar início ao projeto de extração.


De herói ecológico, Correa passou a ser tratado como um inimigo da natureza. Os ambientalistas – equatorianos e estrangeiros – deflagraram uma campanha de desmoralização do presidente equatoriano, sem apresentar qualquer alternativa exceto a de deixar o petróleo sob o solo, em um país onde mais da metade da população sofre pela inexistência de saneamento básico.
Os detratores de Correa desprezam, propositalmente, o fato de que o projeto petroleiro do Yasuní prevê impacto direto apenas em uma ínfima parcela do parque – um milésimo da área total, segundo o governo. As normas estabelecidas, e aprovadas pela Assembleia Nacional, proíbem a construção de estradas nos marcos do projeto. O material de construção será transportado de helicóptero ou pelas vias fluviais existentes, e os oleodutos para o escoamento da produção ficarão enterrados. Para evitar contaminação do solo, a água e o petróleo serão utilizados em circuitos fechados, sem contato com o ambiente externo. Técnicas modernas de perfuração horizontal reduzirão a quantidade de torres petrolíferas. As regiões onde vivem os índios isolados foram declaradas intangíveis – os trabalhos serão imediatamente interrompidos em caso de algum contato com essas populações.
Mas os opositores do projeto se mantêm intransigentes na sua desconfiança, quando prestariam um serviço melhor à causa ecológica se empenhando em reforçar as garantias de que a exploração será conduzida de forma responsável, com o cumprimento das promessas do governo. Difundem um discurso de ceticismo absoluto, sem apresentar motivos que justifiquem tal postura. Denunciam o barulho dos helicópteros como ameaça ecológica (estressaria os pássaros e assustaria os índios). O alarmismo reina na blogosfera: “vão destruir o parque”, “milhares de espécies serão extintas”...
Os acusadores mais afoitos chegam a listar o nome de Correa entre os vilões do aquecimento global, desconsiderando a obviedade de que não é a extração de petróleo que causa o agravamento do efeito estufa, e sim o seu consumo – da mesma maneira que os plantadores de coca das regiões andinas não podem ser culpados pelos problemas de saúde dos viciados em cocaína ou em crack. 



“Viver bem” só é possível com o desenvolvimento



Há muito de oportunismo político, evidentemente, na ofensiva contra o presidente equatoriano, mas o importante a assinalar aqui é o grave equívoco que se comete ao apresentar o desenvolvimento e a sustentabilidade ambiental como objetivos incompatíveis. Na raiz desse erro, encontra-se a concepção fundamentalista de que a natureza é “sagrada”. Assim, sua proteção é erigida em valor supremo, acima das necessidades humanas.


Na realidade, a busca do “bem viver” se articula com demandas muito concretas, que dependem de dinheiro público para serem atendidas. Viver bem pressupõe dentistas, luz elétrica, mobilidade. Ninguém quer ver os filhos morrerem por falta de atendimento médico ou rejeita o aumento da expectativa de vida que só é possível com o acesso aos benefícios da civilização moderna.  O desenvolvimento é um pré-requisito para a melhoria das condições de vida e também para que se possam adotar políticas ambientais efetivamente sustentáveis.
A extração do petróleo do Yasuní gerará recursos preciosos para que o Equador possa enfrentar seus problemas econômicos e sociais. Mas não resolverá – e nisso os críticos de Correa têm razão – o desafio de superar os limites do extrativismo (assim como a renúncia a esse projeto estaria longe de trazer qualquer progresso no rumo de uma economia mais diversificada). O governo equatoriano argumenta que a exploração dos recursos naturais é o único caminho para viabilizar a transição para uma economia avançada, com ênfase na industrialização. A conferir.
O que realmente não faz qualquer sentido é deixar o petróleo debaixo da terra em nome de uma ideia romântica de “impacto ambiental zero”. Quem defende essa posição deveria também, por coerência, ter a coragem de propor que o Brasil desista do pré-sal, em nome do combate ao efeito estufa e à poluição do mar. Alguém é a favor?




(*) Igor Fuser é professor na Universidade Federal do ABC (UFABC), doutor em Ciência Política pela USP e autor do livro “Energia e Relações Internacionais” (Editora Saraiva, 2013).

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De nossa colaboradora-correspondente Urda Alice Klueger (repassando):

Caros amigos,

envio-vos este link http://www.youtube.com/watch?v=I8sTB5ei6Tk do último videoclip do AZAGAIA, um rapper moçambicano que tem expressão maior por estas bandas, o que lhe vale alguns contragimentos na vida.

Prestes a lançar o seu 2º álbum 7 anos depois, gostaria que nos apoiassem a espalhar sua mensagem e sua figura por essas terras de Vera Cruz, já que alguma coisa entendemos em conjunto. Parece-me que o tamanho do oceano mantêm-nos sim distantes.

Fica o apelo, tentando diminuir também o tamanho dos preconceitos em que estamos embuidos.

forte abraço de saudades.

Biografia de Azagaia

Edson da Luz também conhecido como Azagaia, é um cantor moçambicano de Hip-Hop, nascido a 6 de Maio de 1984 em Namaacha, Maputo,  filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana. É conhecido pela sua música de intervenção social apresentada inicialmente no seu álbum de estreia Babalaze.


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Miguel Soares Prista

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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA


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