terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A HORA E VEZ DOS EMIGRANTES

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Se é para pedir, vamos pedir tudo o que é nosso. Mandamos 7 bilhões de dólares para o Brasil e temos de nos sujeitar e nos satisfazer com as migalhas coloridas e analgésicas oferecidas pelo MRE?

Rui Martins*

Um emigrante brasileiro na Suécia, preocupado com tratamentos diferentes na embaixada local, daqueles da embaixada em Berlim, me obrigou a alguns esclarecimentos, já que o Direto da Redação é também lido por milhares de emigrantes, principalmente nos Estados Unidos.

Caro Joca Neto, da Suécia, você tocou no ponto principal, mesmo se muitos continuam não querendo ver.

A I e a II Conferências Brasileiros no Mundo, como explica o próprio DVD que estamos recebendo, foram trocas de experiências, contatos, diálogos, se você quiser, com o Ministério das Relações Exteriores. Nada mais que isso.

Como escrevemos no site http://www.estadodoemigrante.org/, foram um palco, uma ribalta, onde se permitiu a exibição livre com direito a todo emigrante de ser filmado, satisfazer sua vaidade pessoal, numa peça montada pelo Itamaraty com a Funag, mas sem qualquer resultado concreto.

E o Conselho de Cidadãos, com número restrito a 16 cidadãos, é uma tentativa de se ressuscitar um cadáver já podre de uma entidade de elite criada pelo ex-presidente FHC, do qual antes faziam parte os diretores do Banco do Brasil, da Vale do Rio Doce, da extinta Varig e completada com advogados, despachantes e alguns emigrantes.

Mas, e isso é muito importante, sempre sob a tutela do Consul local. Na verdade, esse Conselho pode levantar problemas mas não tem competência para resolver nada.

Quem compõe a maioria dos emigrantes ? Trabalhadores não qualificados que, infelizmente, não têm condições depois de um dia duro de trabalho de ir discutir coisas que não serão resolvidas. Esse Conselho é, portanto, uma outra cena, um mini-palco, onde se toca a música do MRE sob a batuta do Consul.

Nossa energia deve ser dirigida para a criação de alguma coisa que não esteja submetida a diplomatas, que agem de uma maneira neste país e de maneira diferente num outro país. Algo que tenha independência suficiente para atender as reivindicações dos emigrantes.

Por isso, defendemos a autodeterminação dos emigrantes, ou seja, exigir do governo a criação de uma Secretaria de Estado (como a dos Direitos Humanos, do ministro Paulo Vanuchi) com autonomia e com condições de decidir.

Caso contrário, nosso destino de emigrantes será o de enviar emails ao MRE pedindo isto, protestando contra aquilo, fazendo conferências meio luzes da ribalta, elegendo conselhos impotentes.

Veja bem, Joca Neto, nosso objetivo é o de conquistar a maioria dos emigrantes para algo concreto – a criação pelo governo de uma Secretaria de Estado ou mesmo um Ministério voltado para a emigração, mas que pode também abranger a migração e a imigração, dirigido por emigrantes e composto de emigrantes. Temos emigrantes, formados nos EUA, aqui na Europa ou no Japão, capacitados para assumir essa responsabilidade – elaborar leis, regulamentos, normas, diretrizes para a emigração, prestando contas diretamente à Presidência e não a um ministério. Preste bem atenção, os diplomatas também emigram mas não são emigrantes como nós, têm um outro status e outras preocupações.

Está na hora de começarmos a deixar claro e a denunciar os interesses de associações religiosas, de grupos que parasitam ou vampirizam os emigrantes, considerados ora um mercado religioso, ora um mercado econômico, para acentuarmos a necessidade de se criar um órgão governamental laico, capaz de beneficiar a todos e manter as distâncias entre órgão institucional e grupos e associações de interesses diversos.

Esse órgão deverá ter seus parlamentares, eleitos por nós e delegados por nós para nos defenderem no Congresso Nacional, em Brasília. E, deverá ter também um verdadeiro Conselho Consultivo, de uma centena de emigrantes eleitos, representantes de uma grande mostra dos núcleos de brasileiros emigrantes em todo mundo.

Sem esse três elementos, tudo é só festa. O que defendemos é a experiência de Portugal, da França, da Suíça, da Itália, do México, do Equador, que já conheceram fluxos emigratórios e que nos indicam esse caminho.

Se é para pedir, vamos pedir tudo o que é nosso. Mandamos 7 bilhões de dólares para o Brasil e temos de nos sujeitar e nos satisfazer com as migalhas coloridas e analgésicas oferecidas pelo MRE?

Se é para mandar emails, vamos pedir nesses emails que seja dada aos emigrantes, como de direito, a direção da Subsecretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior para que se transforme a seguir na nossa Secretaria de Estado ou no nosso Ministério.

Vamos participar das próximas eleições de um Conselho, se houver, mas só para termos um trampolim para pedir que seja dado aos emigrantes o que é dos emigrantes e não de Ongs que se arvoram em representantes dos emigrantes. Queremos autonomia, independência, laicidade e autoderminação para o movimento emigrante e não ficar repetindo o rosário de queixas e de reivindicações, que justificam as verbas para Ongs, congressos, encontros, documentos e conversa mole de reis da vaidade.

*Ex- correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

Para Rui Martins, o governo brasileiro deveria criar uma nova política de emigração a exemplo de Portugal, França, Itália e mesmo México e Equador.

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http://www.francophones-de-berne.ch/



http://www.estadodoemigrante.org/

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

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